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terça-feira, 30 de dezembro de 2014

As apresentações quinzenais do desemprego

Não é a primeira vez que digo por aqui que estou desempregada. A situação já dura desde Setembro mas cá se vai levando da melhor forma possível. Ajuda o facto de ter direito a subsídio, por pouco que seja. É a segunda vez que estou nesta situação e, como não usufrui da totalidade do tempo a que tenho direito por ter trabalhado 3 anos na mesma empresa, desta vez ainda tenho alguns meses pela frente em que estou "descansada". E se da primeira vez me soube que nem ginjas, pois precisei de tempo para poder voltar a conseguir dormir de noite, como qualquer pessoa normal, e estava esgotadíssima com o trabalho de call center, desta vez já começo a ficar aborrecida. E não me refiro apenas ao facto de não ter trabalho, porque felizmente ainda vou tendo algumas ocupações. Mas começo seriamente a ficar farta da incompetência das pessoas que se dizem "doutoras" e que se acham no direito de tratar os desempregados que lhe aparecem à beira, a seu bel prazer.

Ora, como deverá ser do conhecimento geral, quem não vive próximo de um centro de emprego ou mesmo de um edificio da segurança social, pode perfeitamente resolver algumas situações na Casa do Povo das respectivas localidades. E é nesse local que me tenho apresentado, quinzenalmente, a fim de comprovar que ainda não fugi com o subsídio chorudo que me dão (sim, porque até parece que eu não trabalhei para ele...). Então lá vou eu, com a pasta cheia de papelada, para comprovar que ainda aqui estou e que, por incrível que pareça, continuo sem trabalho.

Na semana passada vi-me a obrigada a deslocar-me a Portalegre pois recebi uma carta um bocadinho assustadora a informar que, uma vez que andava a faltar às apresentações, me iam suspender o desemprego. Olhei para aquela merda e pensei "mas que caralho???" Peguei na papelada toda e lá fui eu tratar do assunto. O meu sangue fervia e já ia pronta para fazer um escândalo a quem me atendesse no Centro de Emprego. Felizmente, eu não sou mesmo de fazer escândalos e expliquei a situação à senhora que me atendeu e juntas tentámos perceber o que se terá passado. Aparentemente terá havido algum erro de sistema e eu faltei por nunca ter recebido a carta onde deveria constar a data da minha primeira apresentação quinzenal. A primeira carta que recebi, já bem a meio de Outubro, era uma convocatória para me deslocar à Casa do Povo para falar com a "doutora" acerca do assunto. Inocentemente, interpretei a carta como sendo a tal data para iniciar as apresentações e assim fiz, em tal dia lá estava eu para me apresentar. Mas eu sou uma leiga nestas andanças e supõe-se que, quem estivesse atrás do balcão de atendimento me soubesse informar o verdadeiro propósito da carta. Mas parece que não... Dois funcionários da Casa do Povo olharam para a convocatória e limitaram-se a fazer-me a apresentação normalmente. E eu segui a minha vidinha, descansada. Felizmente, todo este mal entendido ficou esclarecido na semana passada e as faltas foram anuladas. Tive sorte...

Ontem, foi dia de me deslocar à Casa do Povo a fim de fazer mais uma apresentação. Como devem calcular, depois do susto que apanhei na semana passada, já não ia com muito boa cara. Costumo ser muito simpática quando lá vou, tal como são para mim, mas agora já não consigo. Não tenho que tolerar a incompetência dos outros que, a brincar a brincar, lixam a vida aos outros. Haverá, com certeza, gente competente para fazer aquele trabalho e que está no desemprego, tal como eu...

Então lá fui eu. Ainda me cruzei com a Su à entrada, que também acabava de se apresentar. Conversámos um pouco e depois lá foi cada uma à sua vida. Quando entrei na Casa do Povo, não havia ninguém à espera de vez. Tanto melhor, mais depressa me despachava. Só que, quando me aproximei do gabinete habitual ouvi uma barulheira vinda dos Infernos. Aproximei-me e disse "bom dia". A "doutora", uma funcionaria da câmara e a funcionária do gabinete, interromperam a conversa e olharam para mim. E então a "doutora" perguntou, muito secamente "É para mim?". Quais bons dias quais quê! E eu respondi que não, que queria falar com a funcionária, ao que a dita cuja me pediu para aguardar. 

Aproveito para esclarecer que quando escrevo "doutora" não é um erro. Para mim, doutores são os médicos e todos os outros são os que têm a mania que são alguém na vida e que podem cagar de alto para os outros. Por aqui há muito disso, os "doutores". E muitas vezes são pessoas que nem uma licenciatura têm, portanto perdoem-me se não suporto o estatuto...

Pensava eu que, quando me pediram para esperar fosse apenas para que se despedissem e seguisse cada uma a sua vidinha. Ao fim ao cabo, é perfeitamente aceitável que estejam à conversa quando não têm ninguém para atender, mas quando chega alguém essa deve ser a prioridade. Pois é, e também acredito em fadas e pós de perlimpimpim e outros que tal... As senhoras voltaram-se a continuaram a sua conversa como se nada fosse. E eu ali, que nem uma otária, à espera que as madames terminasse a sessão de corte e costura. E nunca tinha visto uma coisa assim!! Elas falavam as 3 em simultâneo!! Como é possível uma conversa desta forma??? Mais tarde contei à Su e, conhecendo as peças, disse-me que o mais certo é que cada uma conduzisse o seu monólogo. Não me admirava nada!

E lá se foi passando o tempo... Dei ali um pulinho porque tive que ir ao Pingo Doce, estava de carro e queria despachar o assunto. Já não basta uma pessoa ser tratada como um presidiário, a ter que se apresentar a cada 15 dias... Esta é a coisa mais estúpida que podiam ter inventado. Alguém me explica qual é o propósito?? É que se me chamassem para ir mostrar as provas de procura de trabalho, está tudo certo! Acho muito bem que controlem isso, pois há muitas pessoas a viver de subsídios e que não querem mesmo trabalhar. Pois eu tenho as minhas provas de procura de trabalho, desde Setembro, e até hoje nunca me pediram para mostrar absolutamente nada. Mas lá tenho que ir, religiosamente, a cada 15 dias, apresentar-me. E como se isso não bastasse, ainda é assim... Não sei se acham que, por estarmos desempregados, temos que esperar que as senhoras se dignem a atender-nos (porque é mesmo isso que acontece). Como vos disse, eu vinha do Pingo Doce e, já que estou desempregada e tempo não me falta, não me custa nada ter o almoço pronto para quando os meus pais chegam. Mas ontem tive que ficar à espera que os monólogos terminassem. 

E assim se passaram 5, 10, 15 minutos e eu ali, a ouvir aquelas gralhas, que mais pareciam galinha numa capoeira, a tagarelar non stop. O meu sangue já fervia e decidi que, se não acabassem o paleio até às 12.15h me enchia de coragem e ia lá perguntar quanto tempo mais iria ter que esperar. Mais uma vez, não precisei (e confesso que até fiquei com pena...). Subitamente, quando nada o fazia prever comecei a ouvir despedidas e foram à vidinha delas. A funcionária, cheia de simpatias e de sorrisos, mandou-me entrar. E eu não estive de modas, pus-lhe o papel da apresentação à frente e nem disse mais nada. No fim de contas, nem um minuto lá estive...

E pronto, eu peço desculpa pelo post enorme... Mas ando a remoer isto desde ontem e e tive que deitar cá para fora. Não suporto estas situações... Já desde o tempo em que os clientes do call center entravam em linha, depois de alguma tempo em espera, a acusar-nos de estar à conversa em vez de estarmos a atender telefones, quando na realidade, passavam-se horas a atender chamadas atrás de chamadas, sem uma pausa para ir à casa de banho, muitas vezes... E depois vejo estas pessoas, que fazem atendimento ao público e dão a cara, e como se não bastasse as asneiras que fazem, ainda tratam as pessoas como lixo. Não suporto!!

17 comentários:

  1. Ois miga,

    Olha penso que fizeste muito bem em deitar cá para fora o desabafo e é vergonhoso vermos a situação a que isto chegou.

    Sem duvida que a tua situação é mesmo muito desagradável, apenas queres ganhar a tua vida de forma honesta e nem isso te proporcionam, mas já viste por exemplo aqueles que passam mais de 10 horas num hospital ? alias basta ver o estado a que a saude no nosso pais chegou, hoje se queres um serviço de saude pagas e mais nada.

    Mas pronto desejo-te boa sorte, bem mereces e espero que consigas realizar em breve este teu objetivo, tão importante para termos uma vida equilibrada :)

    Bjs

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    1. É uma vergonha... Eu dei o exemplo que se passou comigo ontem, mas há por aí tanta porcaria. É só "doutores" da treta a mandar nisto. Tens toda a razão! E se precisas de uma consulta de urgencia arrotas com 20 euros, fora o tratamento que te derem no hospital... Além de se ser pobre, não se pode ficar doente.

      Hum, se estás a falar daquel projecto que te falei há um tempo, ainda não te contei, mas não vou avançar. Mais uma vez, só me apareceram entraves. E é isto o país onde vivemos...

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    2. Já dizia o outro: "isto não é um país. É um sítio, e ainda por cima mal frequentado". Fiacha, ainda hoje avançavam no telejornal a morte de uma senhora por não ter sido assistida com rapidez nas urgências. É vergonhoso.
      Quando a spi me contou esta do centro de emprego foi de ficar chocada. Não fazem o trabalho deles como deve ser - a Spi, sem culpa de nada, ia sofrendo as consequências de gente com cabeça no ar. Enfim...

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    3. Olha, nunca tinha ouvido essa, mas sem dúvida que se adapta bem a Portugal. Isto anda pela hora da morte...

      E tu naquele dia deves ter sido bem atendida porque ainda lá não estava a "doutora", senão quando eu lá chegava também estavas à porta à espera que terminassem os monólogos... Mas olha que, em relação à senhora que lá trabalha, já ouvi várias histórias de asneiras que ela fez e de as pessoas ficarem sem subsídio. Como vez, não é nada de novo... E ninguém dá uma formação à senhora? É que era o mínimo...

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    4. Supostamente é do Eça. Portugal há 100 anos devia ser quase igual lol
      Sim, a dita senhora estava sozinha, por isso se lá fiquei 5 minutos foi muito. Segundo se consta, a tal senhora já está em perigo de ser afastada dali...

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    5. ah sim? olha isso não sabia. Tens que me contar melhor essa

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  2. Oh linda sei bem o que isso é... também estou desempregada desde Setembro, e a começar a panicar...
    Estou livre de fazer as apresentações, porque me meteram a fazer uma formação ranhosa, daquelas que para todos os efeitos, não servem para nada... apenas para estatísticas, e para enganar o povo sobre os números do desemprego. sinto que somos muito mal tratados em portugal =(

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    1. Estamos então desempregadas desde a mesma altura... Por acaso, desta vez ainda não me mandaram para nenhuma formação. Mas da primeira vez que estive desempregada não me safei. Fui fazer uma de comunicação assertiva - que até foi interessante mas não serve mesmo para nada, em termos práticos - e no ultimo trabalho que tive, como entrei pelo desemprego, também era obrigada a fazer uma formação de 50 horas, durante o horario de trabalho. Na altura abriram duas formações: uma de inglês e uma de alemão. Se podia ter aprendido alguma coisa com isso? Pois, até podia se me tivessem metido na de alemão. Em vez disso fui parar à de inglês - básico, para quem não pesca mesmo nada daquilo - ou seja, 50 horas de pura seca e com muitas fichas iguais às que fazia no quinto ano para resolver.

      E este trabalho a que me refiro também é como dizes, um engano. Trabalhas um ano, ao fim desse tempo acaba o contrato e voltas ao mesmo sítio... Somos mesmo muito mal tratados por cá... Bato palmas a quem tem coragem de se ir embora

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  3. As pessoas que se vão embora não vão para melhor, infelizmente. Vivemos é num país em que as pessoas se queixam muito, se vitimizam muito, e exigem quando não têm, atirando as culpas para os outros. Não te estou a criticar, até porque sei por experiência própria o quão difícil é estar-se desempregado. Tive 2 anos, mais 1 em que estive a trabalhar como voluntário sem receber um cêntimo. Mas não deixes que isso te desmotive e te amargue o coração. As injustiças sociais existem e vão existir sempre e a única forma de conseguirmos viver com isso é com o nosso trabalho. Não baixes os braços e procura, porque aliás, esse é o trabalho de um desempregado - procurar trabalho e nunca te acomodes ao subsídio porque vicia-te e torna tudo mais difícil. Quanto a essas obrigações, não te adianta não gostares delas, fazem parte das "regras".
    Beijinho e coragem.

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    1. Eu acredito que quem se vá em bora, já o faça por desespero de querer alguma coisa melhor na vida e não conseguir por cá. Eu tento não desmotivar e a verdade é que arranjei um part time que me vai dar uns trocos extra ao final do mês. Nada demais, mas já é uma ocupação e um extra além do subsídido. Ficar em casa a olhar para o ar é que não!

      Opa, eu sei, quer goste quer não, tenho que me apresentar e mais nada. Mas eu não percebo a lógica. Porque não aproveitam para ver as provas de procura de trabalho? É que essas, que realmente deviam controlar, nunca me pediram para apresentar. Enfim...

      beijinhos

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    2. É verdade e eu conheço várias pessoas que foram para o estrangeiro e para além de trabalharem lá no duro têm que aprender a lidar com as saudades de casa e da família que é muito cruel.
      Eu por acaso pensava que controlavam e pediam essas provas, é estranho. :(
      :*

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    3. Supostamente pedem. Enviam uma convocatória para casa para se ir à casa do povo mostrar as provas à "doutora". Acontece que já estou desempregada desde setembro e ainda não me mandaram ir mostrar nada. Já da primeira vez que estive desempregada, nunca me pediram tal coisa.

      Isto sim, devia ser importante ir lá mostrar. Tantas pessoas que há por aí a receber subsidios e a não querer trabalhar... Mas não, temos que lá ir fazer a apresentação a cada 15 dias, que não é mais do que ir lá dar a cara. É esta lógica que não percebo.

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  4. Fizeste bem em desabafar. Estou desempregada há 2 anos e meio e já não recebo subsídio há 1 ano. É desesperante e revoltante como nos tratam.
    Perto do verão fiz uma formação pelo IEFP e eu tive sorte pois quando fui chamada, todos os cursos estavam disponíveis para escolha, mas houve colegas meus de curso, que não tiveram mais hipóteses de escolha.
    Já para não falar das vezes que ou és chamada para apresentações de "acções" de uma tarde ou ainda para actualizar os dados (com uma folha que nem tem sítio para, por exemplo, se actualizar a morada).
    Ahhh e numa dessas sessões, quando um desempregado que não recebia subsídio nenhum se estava a queixar que faziam as pessoas gastar dinheiro a deslocar-se para "acções que não lhes interessavam" a sra directora do centro de emprego da minha área de residência respondeu "As pessoas têm que ter sempre dinheiro para os transportes e não podem dar a desculpa que precisam do dinheiro para comer pois há instituições onde podem ir buscar comida!"... Não se diz uma coisa destas!!
    Somos tratados como se não fossemos pessoas...
    Muita força e não desanimes (sei que é difícil)

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    1. O quê???? Fiquei parva com essa resposta!! Por cá há muitas pessoas a ir buscar comida à santa casa. Curiosamente são pessoas que não trabalham ou que até trabalham mas andam sempre a dizer-se de coitadinhos e depois têm dinheiro para bons telemóveis, carros, férias... O normal, portanto... Só para comida é que não têm, coitadinhos. Mas essa senhora tinha merecido uma boa resposta, no mínimo...

      Só me chamaram uma vez para uma sessão desse género e foi da primeira vez que estive desempregada. Convocaram imensa gente para ir à escola de hotelaria de portalegre a uma sessão de apresentação dos cursos. Tinhamos que lá estar cedinho, não havia horários compatíveis e tive que arranjar boleia com mais gente (na altura nem tinha carta). Chegámos lá foi tudo muito interessante. Só achei triste convocarem pessoas que estão no desemprego para convidá-las a entrar numa escola que têm que pagar para frequentar. Até a farda, que têm que usar todos os dias, somos nós a pagar. E pagamos com o quê???

      Tita, muita força para ti também. Só posso imaginar como é estar há tanto tempo desempregada.
      beijinhos!

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    2. Nem eu sei como é que o rapaz que se estava a queixar não lhe respondeu nem saiu porta fora. Como é que alguém, na posição dela, diz tal coisa? Só olham para o "umbigo" deles e não respeitam os outros.
      Então, pagas com o subsídio, pois eles pagam uma fortuna e tu estás "sem fazer nenhum" (estou a ser irónica).
      Eu nunca fui chamada para apresentar provas de nada, mas uma ex-colega de trabalho foi chamada para confirmarem os papéis (e não, não foram as provas em como estava a responder a anúncios) das apresentações quinzenais.
      *suspiro*
      Parece que aqueles que cumprem as regras é que são sempre os "lixados" porque depois há quem seja os "chico-espertos" e esses safam-se sempre.
      Obrigada Spi, não é nada fácil e há alturas em que nos sentimos pior.
      Beijinhos e boa sorte!!

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    3. Eu não sei se me continha, mas a verdade é que se calhar depois ainda era pior para o nosso lado. Se calhar foi por isso que o rapaz não disse mais nada. Ou então ficou mesmo sem fala... Vergonhoso....

      Lá está, para mostrar os papeis das apresentações quinzenais também já me chamaram. Mas procurar emprego, que isso sim é importante, nada... É o que digo, os chicos espertos que não querem trabalhar e passam a vida a viver de subsídeos é que se safam neste país...

      beijinhos

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