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terça-feira, 23 de dezembro de 2014

O domingo das Azevias

Há algumas semanas comentei com o meu namorado que gostava muito de aprender a fazer azevias. Não apenas pelo "saber fazer" mas também porque hoje em dia, comprar azevias é uma coisa absurdamente cara. Pelo menos por cá, tenho-as visto a 1 euros cada e para quem queira encomendar suficientes para ter em casa na noite da Consoada, já podem imaginar o gasto que não é... 

Então lembrei-me que, todos os anos, duas tias minhas se juntam para fazer azevias que acabam por distribuir pela família toda. Quem melhor para me ensinar, não é? Combinei tudo com elas e domingo lá peguei no meu caderno de notas e fui ajudá-las. Começaram por me explicar que usam sempre 2kg de farinha e que metade da massa ainda não estava feita, para eu poder ver como se faz. Ena Ena!! Fiquei toda contente. Então, enquanto a minha tia Cândida ia começando a saga das azevias, a minha tia Antónia explicou-me a receita e os passinhos todos para fazer a massa e o doce. 

O Doce 
(para 1kg de farinha)


1 frasco de grão cozido (aprox. 400g)
300g de açúcar (usámos louro, mas podem usar açúcar branco)
Raspas de casca de laranja

Depois de escorrer bem o grão, retira-se a pele (sim, grão a grão) e depois passa-se tudo no passe-vite. Leva-se uma panela ao lume com o puré de grão e o açúcar e deixa-se levantar fervura. Vai-se mexendo para envolver bem o açúcar no puré. Quando o puré começar a borbulhar, juntam-se as raspas da laranja e apaga-se o lume. 

O doce tem que estar frio no momento de fazer as azevias, por isso deve ser feito na véspera e conservado no frigorífico.

A Massa

Para facilitar um pouco a tarefa de amassar a massa, a minha tia faz os 2kg habituais de forma separada. Para isto usa um alguidar, nem muito pequeno nem muito grande, mas que dê para movimentar bem os ingredientes.

1 kg de farinha sem fermento
1 tigela de água morna
1 pacote pequeno de banha de porco (julgo que o pacote é de 250g)
1 pitada de sal
1 cálice pequeno de aguardente

Começamos por aquecer a água, que pode vir directamente da torneira, mas que tem que estar morna. A tigela a usar também não precisa de ser muito grande, basta uma tigela da sopa. Dissolvemos o sal na água. No alguidar adicionamos a farinha e abrimos um buraco no meio, onde deitámos a água morna. Após isto é muito importante envolver a farinha e a água de modo a que toda a farinha fique húmida, por isso toca a envolver tudo muito bem! 

Quando estiver tudo bem envolvido, junta-se a banha aos poucos e comaçamos a amassar. A massa deve ficar elástica e homogénea, o que ainda pode levar um bocadinho a conseguir. No final adiciona-se a aguardente e envolve-se mais um pouco para misturar bem. O detalhe da aguardente é muito importante, pois é o que vai fazer a massa crescer durante a fritura. No final envolve-se a massa dentro de um pano e deixa-se repousar, de preferência num local quente ou ao sol. O tempo de repouso é relativo. Nós deixámos repousar enquanto fazíamos azevias da massa que já estava feita, o que deve ter sido cerca de uma hora e pouco...

Passando às azevias propriamente ditas, revelou-se um trabalho apto a qualquer criança que frequente o infantário. Então retira-se um pouco de massa e faz-se uma bolinha com as mãos, para ajudar a massa a aquecer um pouco e depois estica-se bem com o rolo da massa, até ficar fina. Depois disso coloca-se uma colher de doce em cima da massa, fecha-se e corta-se o excesso, dando-lhe a forma que tão bem conhecemos. E foi assim, ao longo de mais de 200 azevias. 

Recordo-me de a minha tia explicar que não gosta de fazer as azevias em bancada de mármore pois a pedra é muito fria e custa mais a esticar a massa. Usámos uma mesa de madeira para esticar e montar as azevias e fomo-las juntando na bancada de mármore, à espera da hora de fritar. 

A parte final também requer muita paciência, pois se fazer mais de 200 azevias (ainda que o trabalho seja repartido por 3 pessoas) dá algumas dores de costas, pescoço e mãos, a parte de fritar também se torna um desafio para os braços. Convém usar uma fritadeira grande, para que não tenham que fritar uma de cada vez, e o óleo deve ser abundante (o suficiente para as azevias não arrastarem no fundo do tacho). O óleo deve estar bem quente e não vale baixarem o lume a meio, senão demoram muito mais tempo. Não se esqueçam de ir virando as azevias para que fritem de ambos os lados. Por vezes temos que ajudar porque o peso do doce não as deixa virar sozinhas e temos que as segurar com a espátula. Quando estiverem douradinhas, retiram-se e deixa-se escorrer. Para isto a minha tia usou um alguidar enorme, onde as foi juntando. Depois de secas, envolvera-se em açúcar e foram repartidas em caixas para toda a família.

Não é um processo muito difícil, e fazendo contas ao material usado, não devemos ter chegado aos 5 euros. Imaginem lá quanto não lucram as pastelarias que vendem cada azevia a 1 euro!! No próximo ano já sabem: toca a por a mão na massa!

Ah!! Quase me esquecia! Para quem prefira as azevias cozidas, já andei a investigar. Todo o processo é igual, mas a massa deve ficar um pouco mais grossa. Depois é só polvilhar com um bocadinho de canela e levar ao forno.


16 comentários:

  1. Nada melhor do que nós a fazer, em todos os sentidos! :)
    Muito bem!

    Boas Festas :)

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    1. Olá Denise!

      Sem dúvida. E sempre as podemos deixar ao nosso gosto. Eu não gosto nada de comprar azevias e depois tenho que comer aquela fartura de massa com um bocadinho de doce que ma se vê. Que enjoo... Assim ficaram pequeninas, mas muito boas :)

      Boas festas!

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  2. Ois,

    Penso que a corva sabe fazer todo este tipo de doces mas muito obrigado pela partilha, vou sugerir-lhe :D

    E vejo que foi uma grande aventura, muito bem :)

    Bjs e já comia uma :D

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    1. Olá Fiacha

      Então se a dona Corva tiver mais alguma dica que possa ajudar um principiante (como eu) será bem-vinda!
      Foi uma tarde muito bem pensada, sem dúvida :)

      A da foto já foi! heheh

      bjnhos

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  3. lol ganhaste-lhe o gosto eheheh

    Posso tentar ver, mas olha o regime, ainda engordas :P

    Isso é o mais importante e os saberes alentejanos deste genero valem ouro ;)

    Algo que já previa :D

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    1. Há bocado queria dizer que foi uma tarde bem passada, e não pensada dah!!

      Ai nem me fales em dietas... o meu fígado deve andar um bocado zangado comigo. E ainda quero fazer sonhos!

      Olha, agora por causa dos saberes que valem ouro, vim de lá encantada com uma coisa bem simples mas que adorei. A minha tia tem um cortador de massa que, pelos visto já era da minha avó paterna e, antes, era da sua mãe. E o cortador estava impecável. Quem sabe um dia não poderá ser meu :) Giro, não é?

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    2. Sem duvida, tens que aparecer mais vezes e ainda serás a herdeira de algo tão valioso :)

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    3. Bem valioso, acredita. Sou muito sentimental com estas coisas :)

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  4. Olá!

    Também sou cada vez mais adepta do fazer em casa, do DIY!! Por vezes, basta um pouco de vontade e tempo para fazermos coisas que são muito caras! Enquanto podíamos fazê-las nós próprias! E até se torna numa actividade bem divertida! :)

    Azevias é que não sou fã! Mas há todo um "mar" de iguarias natalícias das quais me vou aproveitar este Natal!

    Feliz Natal cheio de coisas boas!

    Beijinhos e boas leituras!

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    1. Olá Isaura!

      Já somos duas e não só na cozinha! Há tanta coisa que podemos fazer nós próprios e poupar um bocadinho a carteira. Só é preciso um bocadinho de tempo (que muitas vezes é o que falta) e vontade.

      Não és fã de azevias, faz-se filhoses!

      Espero que o Natal tenha sido bom :)
      beijinhos

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  5. Olá Sofia!!
    Mas que bem, uma menina muito prendada :D
    Acho que fazes muito bem em preservar as tradições :)

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    1. Olá Nuno!

      Tem que ser! Não custa nada aprender e se der para poupar algum dinheiro, ainda para mais nesta altura tão consumista, melhor ainda!

      Espero que o Natal tenha sido bom ;)
      beijinhos

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  6. Não sou fã, mas adoro o cheiro destes fritos no natal =)

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    1. Eu gosto muito do cheiro a fritos misturado com canela. Faz-me logo lembrar o Natal :)

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  7. Aiiii, para o ano já sei a quem encomendo azevias :P gosto tanto! por acaso a minha mamã também queria tentar fazer este ano, mas não nos atrevemos. Fica para o próximo, até porque já sei a quem pedir sugestões :p hehe

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    1. Hum... não contes muito com isso. Estas sairam boas porque as fiz com as minhas tias. Depois do Natal aventurei-me sozinha mas a massa não me ficou lá grande coisa. Deu para fazer azevias, mas não me arrisquei a fritá-las. Cozi-as no forno. Ficaram boas à mesma. Mas preciso de prática

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