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quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

A Revolução da Mulher das Pevides

A Revolução da Mulher das Pevides, de Isabel Ricardo, é um romance histórico que nos conduz até Portugal de 1807, ano em que se inicia a primeira invasão francesa. Napoleão Bonaparte era, por essa altura, o Imperador de França que sonhava ser o soberano de toda a Europa e, quem sabe um dia, de todo o mundo. No início do século XIX, as principais potências europeias (como a Rússia, por exemplo), já tinham tombado perante Napoleão e os seus respetivos regentes, foram substituídos por parentes e homens da confiança do Imperador francês. 

Claro que, ao pé de países tão importantes e poderosos como a Rússia, Portugal parecia pequeno, insignificante e facilmente poderia passar despercebido à ganância de Napoleão. Mas a costa portuguesa, banhada em pleno pelo Atlântico era uma promessa de novas riquezas e o povo português destacava-se de tantos outros. Foram os primeiros a desvendar os mares quando outras nações nada faziam. Aventuraram-se a enfrentar perigos desconhecidos, quando se acreditava que o oceano era povoado por monstros aterradores. Os soldados portugueses eram corajosos e não desertavam mesmo quando sabiam que enfrentavam a morte. Napoleão não podia deixar de cobiçar esta nação. 

Mas para além de ser um romance histórico, este livro é também uma homenagem ao povo nazareno, do qual a autora descende. A par com as cenas onde se delineiam estratégias e se criam intrigas, Isabel Ricardo apresenta-nos os habitantes da vila da Nazaré (muitos deles verdadeiros) e dedica uma boa parte do livro a contar-nos as suas histórias. Quando as tropas francesas chegam a Portugal, em menor número do que saiu de França devido às dificuldades da viagem, é através do povo nazareno que conhecemos este período da história. A revolta da população é frequente, em especial por se ver obrigada a alojar e alimentar os soldados franceses que, mesmo estando apenas a cumprir ordens superiores, não deixavam de ser o inimigo. 

Meses e meses após a invasão, o povo começa a revoltar-se e por todo o país nascem pequenas alianças que conseguem expulsar os franceses de algumas cidades. Mas é na Nazaré que, surpreendentemente, o povo se revolta sozinho. Sem ajudas militares e com armas improvisadas. 

Este é um romance muito rico em detalhes e torna-se difícil fazer um apanhado geral da história sem sentir que ainda há muito para dizer. Gostei particularmente das personagens nazarenas não só pela sua forma de falar tão particular, que a autora fez questão de transcrever para o romance, mas por deixar transparecer aquilo que realmente é o povo português: um povo humilde, trabalhador, sofrido, mas que tenta sempre fazer o melhor com o pouco que tem. Não é um povo muito diferente daquele que somos hoje, pois não?

Gostei particularmente da Ana Luzindra por ser uma mulher lutadora e inteligente, que usa a sua beleza para seduzir os soldados franceses e atraí-los ao seu punhal. Diverti-me imenso com a Joana da Estopa e as suas pragas nazarenas tão engraçadas. Mas não posso dizer que tenha adorado a Maria dos Anjos, que começa por ser uma personagem secundária e quase sem "tempo de antena" e acaba por se tornar um foco principal da história. Custou-me imenso ler os capítulos em que "algo" verdadeiramente horrível lhe acontece, mas confesso que algumas das suas birras me fizeram revirar os olhos. Dei por mim a pensar: e se a Ana Luzindra e a Maria dos Anjos fossem a mesma personagem? Uma jovem solteira e muito bonita, que atrai os soldados franceses para a morte e que, um dia mais tarde, sofre na pele uma desgraça enorme que lhe causa a perda da sua família (não posso dar detalhes porque é um spoiler enorme!), que é salva pelo Rodrigo por quem se apaixona e decide vingar-se dos soldados franceses. Penso que, de duas personagens boas, teria saído uma personagem excelente. Até porque o marido e as filhas da Ana Luzindra, não contribuem em nada para a história... 

À semelhança do que aconteceu com O Último Conjurado, também da autoria de Isabel Ricardo, adorei conhecer mais um pouco da História de Portugal através de um romance histórico. Tal como a Dinastia Filipina, as Invasões Francesas foi um tema que me recordo de aprender muito por alto, na escola. Espero sinceramente que a Isabel consiga trazer-nos uma continuação para este livro, porque o final assim o promete e eu gostava imenso de aprender mais sobre as invasões seguintes. O Napoleão devia ser um teimoso de primeira!!

Como sabem, eu acabei por ler as duas edições. A mais antiga está autografada pela Isabel e a mais recente foi cedida pela Saída de Emergência para opinião no blogue. Fiz um post a mostrar e a comparar as duas edições e podem vê-lo aqui! Ao longo da leitura fui saltitando entre as duas, lendo a mais antiga por casa e a nova ia comigo para a rua (também é uma forma de publicidade, não é?). Chegando ao final, sabia que haveria diferenças mas acabei por perceber que não são muitas. Simpatizei mais com o final da edição da sde, que dá um desfecho mais positivo e cujos nazarenos terminam de olhos postos num futuro melhor.

Resta-me pedir à autora e também à editora: por favor, por favor, por favor!! Façam lá uma continuação!!



4 comentários:

  1. Olá Sofia!
    Eu adorei a Joana da Estopa, com tudo o que faz ao francês e com as suas pragas. Ri-me tanto!
    Percebo a tua questão com a Maria dos Anjos e Ana Luzindra mas julgo apenas a Maria dos Anjos é inventada, enquanto que a Ana Luzindra foi uma personagem real. Pelo menos foi o que eu achei.
    Oh pah, custou-me tanto ler essas cenas, são tão violentas =( Mas percebo a atitude de Maria dos Anjos.
    Apesar de tudo, acho que escolhemos um excelente livro para a leitura conjunta =)
    Beijinhos

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    1. Olá Tita,
      Cada vez que penso na café salgado até me dá arrepio!
      Também fiquei na dúvida, porque tenho ideia de a Isabel me dizer que a Ana Luzindra existiu mesmo. Estas portuguesas são danadas para a pancada! Olha a padeira de Aljubarrota, também não se atrapalhou na hora de dar umas cacetadas hehehehehe

      Escolhemos sim senhora! Temos que fazer outra leitura conjunta lol Nem que seja para tu ires a 200km/h e eu a 80 LOL

      beijinhos

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  2. Viva,

    Ainda acabaste primeiro que eu, devo comentar em breve mas dizes tudo, um livro que acaba por ser uma homenagem ao povo português :)

    Bjs e boas leituras

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    1. A sério? Pensava que tinha sido a última a terminar a leitura. Quando escreveres no blogue depois partilha comigo que eu quero ver o que tens a dizer sobre o livro :)
      Acima de tudo é isso mesmo, uma bela homenagem ao povo português. Espero que a Isabel consiga fazer uma continuação

      beijinhos

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