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domingo, 24 de janeiro de 2016

O Que Fazem Mulheres

O Que Fazem Mulheres foi reeditado pela Guerra&Paz e está à venda nesta linda edição desde dia 20 de Janeiro. O meu exemplar chegou cá a casa poucos dias antes, cedido pela editora para opinião no blogue, a quem desde já agradeço.

Assim que abri o envelope, não resisti a folhear e a admirar o livro por alguns instantes. Adorei a capa por ser simples e ao mesmo tempo muito elegante. O mesmo elogio serve para a recente reedição de Os Maias, cuja capa também é lindíssima e espero ainda conseguir um exemplar para a minha estante. Estaremos perante uma nova colecção de clássicos portugueses? Se sim, acho muito bem! Mas voltando a este livro em particular, confesso aquele capítulo oculto me deixou bastante intrigada, logo que percebi que uma das folhas se desdobrava. 

Quando comecei a leitura, estava numa formação. Levei-o comigo para ler naqueles momentos em que acabo de passar apontamentos mais depressa que os meus colegas, aproveitando assim os bocadinhos mais parados. Começando pelo início, li a nota editorial, onde se explicava a existência do tal capítulo oculto e ainda um capítulo avulso, "para ser colocado onde o leitor quiser". Não percebi bem como funcionaria esse capítulo, mas sem mais demoras passei à leitura. Li a nota do autor, dirigida "a todos os que lerem" e logo de seguida estava o tal capítulo avulso, que continuei a ler normalmente. Só que, quando ia a virar a primeira página do capítulo, fiquei com um molhe de folhas na mão. Imaginem-me em plena formação, a tentar ler sem dar muito nas vistas, e de repente com um capítulo inteiro na mão.... "Já fizeste merda, Sofia", pensei eu.... Depois percebi a ideia do dito capítulo, que se repetia logo de seguida nas páginas devidamente agarradas ao livro. Que susto...





Passado o susto inicial, mergulhei na história propriamente dita. O romance foi publicado pela primeira vez em 1858, quando Camilo Castelo Branco tinha apenas 33 anos. A escrita rebuscada dificultou-me um pouco a leitura dos primeiros capítulos, mas com a continuação acabei por me habituar e as páginas foram voando. Li-o quase todo num serão, já que na formação não conseguia ler mais que uma página de cada vez. 

Para além do retrato que o autor tece à sociedade da época, penso que este livro é uma homenagem às mulheres. Os casamentos eram arranjados pelos pais e as meninas que casavam por amor, sendo uma minoria, corriam sérios riscos de ser infelizes. O adultério era crime. Com esta premissa por base, assim nasce o romance. 

Ludovina era uma jovem muito bonita e elegante, enamorada de Ricardo de Sá, um rapaz igualmente bonito e com boa posição social que, apesar de estimar muito a sua companhia, não faziam qualquer intenção de se casar. Mas nada temam, meus estimados leitores, porque dona Ludovina já tinha um pretendente cuidadosamente escolhido pelo seu pai: João José Dias, regressado do Brasil, muito rico, muito honrado, muito velho, muito gordo. 

Não quero entrar em muitos detalhes, porque não sou muito dada a resumos e não quero fazer spoilers. Mas, revelando um bocadinho a ponta do véu, posso dizer-vos que aqui pelo meio há adultério. Não vos conto como, quem ou porquê (para isso têm que ler o livro) mas com o desenrolar da história acompanhamos a forma como isso afecta a relação de Ludovina e do marido. 

Os comentários que o autor faz ao longo da história, dando o seu parecer sobre os acontecimentos, torna tudo muito engraçado. Ao ler cenas mais dramáticas, acompanhadas por comentários sarcástico do autor, foi difícil conter um sorriso. Pelo meio do livro, o autor faz-nos um pequeno apanhado com todas as cartas dispostas na mesa e, em seguida, pergunta ao leitor qual o final que espera deste enredo. Rapidamente tece meia-dúzia de linhas com um possível final, digno de uma novela brasileira e promete que não é nada disso que nos espera. E a verdade é que o autor consegue fugir aos clichés que tantas vezes encontramos em romances, e dá-nos um final inesperado e (na minha opinião) muito bom. Nas últimas páginas dedicadas ao João José Dias, não precisei dos comentários irónicos do autor, para me rir. O seu papel de "coitadinho", constantemente a enviar cartas à mulher a relatar o seu estado desgraçado e às portas da loucura e da morte, é mesmo para revirar os olhos e rir com a atitude tão infantil do barão.

Nunca tinha lido nada de Camilo Castelo Branco, apesar de ter Um Amor de Perdição na estante. Colocámos esse romance na lista de backup do nosso desafio de clássicos, mas se conseguir arranjar um espacinho entre outras leituras, vou tentar lê-lo em breve. Adorei esta leitura e tenho imensa pena de não poder alongar-me mais no comentário, por correr o risco de dar algum spoiler.

E vocês? Já leram alguma coisa do autor? Partilhem o que acharam :)

6 comentários:

  1. Olá Sofia,
    Já li dois livros do CCB e confesso que não gostei de nenhum. Acho a escrita demasiado chata. Mas este até parece uma história interessante e acho a capa tão gira. Talvez lhe dê uma oportunidade =)
    Beijinhos

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    1. Olá Tita,

      A escrita assustou-me um bocado ao início, mas não a achei chata. Depois de me habituar àqueles estilo romantizado, típico para aquela época, a leitura fluiu normalmente. Dá-lhe uma oportunidade :)

      beijinhos

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  2. Olá, Spi,
    Parece-me muito bem :D um dia impinge-mo... :P beijinho

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  3. Viva,

    O titulo deixa-me curioso pois nem sempre é fácil saber o que andam a fazer :D

    Fico contente que tenhas gostado tanto do livro, se poder um dia leio ;)

    Bjs e boas leituras

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    1. Olá,

      Ahahaha mas não duvides. Neste livro consegues perceber de que forma as mulheres conseguem ser manipuladoras. E não o digo no mau sentido. Se tiveres oportunidade, lê. Foi uma excelente leitura

      beijinhos!

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