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segunda-feira, 16 de maio de 2016

O Amante de Lady Chatterley, D. H. Lawrence

O Amante de Lady Chatterley, de D. H. Lawrence, foi-me cedido pela Guerra & Paz Editora em troca de uma opinião honesta. Posto isto, sinto uma certa pena ao admitir que não gostei tanto da leitura como esperava... A sinopse pareceu-me interessante e o facto de o livro ter sido censurado ainda aguçou mais a minha curiosidade. Mas apesar da leitura ter sido uma autêntica roleta, em que alternei momentos de leitura agradável com "reviramento" de olhos, o veredicto final é negativo.

Antes de começar a escrever, passei pelo Goodreads para ler outras opiniões e perceber se seria um problema apenas meu. Mas afinal é algo mais ou menos geral. Raramente há um meio termo nas cotações, e são frequentes as classificações com 5 e com 1 estrelas. 

Começo então por vos fazer um pequeno enquadramento na história. D. H. Lawrence começou a escrever este romance, em Itália, em 1926, quatro anos antes de falecer. Como poderão perceber por essa data, refere-se àquela época do pós-guerra e o livro foi censurado e tratado como "um caso de clamoroso escândalo por acusações de pornografia". A história é, em si, um verdadeiro retrato da época e podemos encontrar diversas referências à 1ª Guerra Mundial. O próprio Sir Clifford, descendente de uma família abastada com ligações comerciais à extracção de carvão, regressa da guerra "em pedaços" e numa cadeira de rodas. A esposa Connie, ou Lady Chatterley, encarrega-se de tudo o que o marido possa precisar e mantém-se a seu lado em todas as ocasiões, seja para o levar a dar um passeio pelo bosque, para ajudar nas lides de anfitrião, ou até para o ouvir a ler em voz alta durante o serão. 

A ligação entre os dois personagens é puramente intelectual e apesar de Connie preferir este tipo de estímulo a qualquer tipo de ligação física, a verdade é que com todo o trabalho a que se sujeita para tornar a vida de Clifford mais simples e natural, Connie nota que o marido age como se fosse essa a sua obrigação, sendo escassas as palavras de gratidão e reconhecimento pelo seu trabalho. E depois há o cenário. Wragby tem como pano de fundo o céu cinzento e as minas de carvão que estão em constante funcionamento. O som prevalecente é a sirene que assinala a troca de turnos entre os trabalhadores e as enormes ventoinhas de ventilação. A própria casa é feita de acrescentos de antepassados de Clifford, não obedecendo a nenhum estilo particular e é apenas embelazada pelo bosque circundante onde ainda há vestígios das trincheiras. 

E porque não gostei do livro? Bom, em primeiro lugar porque não percebi como pode ser considerado um livro erótico ou pornográfico. Sim, há cenas de sexo, mas para além de não ser nada de muito explícito, também não é algo frequente. Muita coisa se passa entre as cenas de sexo. Ainda assim, para a época em que foi escrito, percebo porque foi censurado. Talvez não tanto pelo conteúdo sexual, mas por quebrar valores. Imaginem-se nos anos 20 e como seria chocante, e uma grande vergonha, saber-se que a Lady Chatterley, uma senhora com título, deixar o seu marido inválido, herói de guerra, para tomar um dos seus criados como amante. Mesmo nos dias de hoje, uma situação parecida ia dar muito que falar... 

Mas a própria relação entre Connie e o seu amante, o guarda de caça da propriedade, não me convenceu nem um bocadinho. O homem até poderá ser muito jeitoso e tal, mas o dialecto em que fala era o suficiente para me fazer dar meia volta - just saying... Não senti o romance. Ele, muito frio e constantemente incomodado pela presença dela; ela que começa apenas por "abrir as pernas" e a manter-se quieta enquanto Mellors faz o que tem a fazer, até ao dia que percebe que está apaixonada (??). Isto não me pareceu amor, ou paixão ou desejo, mas algo como uma crise de meia idade de uma senhora extremamente desocupada e deprimida. E se a coisa até poderia ter melhorado quando os dois começam a passar mais tempo juntos, quando assumem os seus sentimentos, a verdade é que não aconteceu. O autor passa de uma relação fria e pouco convincente, para uma ternura forçada e uma conversa de alcova tão piegas que ia ficando com um torcicolo nos olhos. Não! Conversas cutxi cutxi em torno da Jane e do John - sim, é o que estão a pensar - enfeitados com flores, não é bonito nem romântico. É só um bocadinho parvo...

Valorizo, no entanto, o contexto histórico do livro. Inglaterra, após a 1º Guerra Mundial, foi uma das poucas coisas que me incentivou a continuar a leitura. E o Sir Clifford, por estranho que possa parecer. Pode não ser o melhor dos maridos, mas foi a única personagem que me convenceu. Após o seu retorno a casa, como já referi "em pedaços" e numa cadeira de rodas, Sir Clifford começa por se dedicar à escrita de contos que lhe dão algum propósito na vida e um certo rendimento. As tardes e os serões passados com os seus companheiros da sociedade, permitem-nos ler algumas conversas de conteúdo mais intelectual que nos dá outra perspectiva da época. Discussões de ordem política, filosófica, literária... Mais tarde, ao perceber que a indústria da extracção de carvão está em declínio, Sir Clifford põe a escrita de parte e passa a dedicar-se ao estudo da física, da química e da engenharia, e procura modernizar a sua mina de carvão, aproveitando o minério extraído para o fabrico de outra substância moderna e inovadora. À parte de todos os defeitos de Clifford, que por vezes age como uma criança mimada, não deixa de ser uma personagem muito interessante. 

Apesar de ter passado o livro a pensar que "isto não é para mim", fiquei com vontade de ler mais alguma coisa de Lawrence. Não só pelo seu vasto reportório de livros censurados, que certamente atrai muitos leitores. A verdade é que os parcos momentos de leitura agradável me deixam com vontade de dar uma segunda oportunidade ao autor. 

Já agora, pergunto-vos: recomendam-me algum outro título de D. H Lawrence? E quem já leu O Amante de Lady Chatterley, o que tem a dizer sobre o assunto?

6 comentários:

  1. Olá Sofia,

    No mesmo âmbito da parceria com a Guerra & Paz, tive o privilégio de ler esta obra, que em nada me desiludiu. Uma obra que tem tudo para ser o clássico da literatura que hoje é.
    Acredito que a polémica que nasceu em torno dela faça emergir esses lados opostos de que falas, entre amores e ódios mas, sobretudo, pela ideia vincada de que o livro tem de ter forçosamente cenas ditas pornográficas ou literalmente visuais para justificar as blasfémias em torno dele.
    Pois bem, na minha opinião (e que fique bem claro que é a minha opinião, valendo por isso o que vale :)), mais importante do que esses apartes da Jane e do John, é precisamente a ligação amorosa/sexual daquele casal que conta e me parece que o autor desejou passar: o enriquecimento e crescimento da Lady C. enquanto mulher e o seu poder enquanto tal, na esfera da sexualidade e não só. Por outro lado, Mellors representa o lado da natureza, o lado selvagem, lado esse faltava a Lady C., enriquecendo-se também com a sensibilidade daquela. Uma simbiose interessante do amor, esta, do autor, através da ligação dos corpos e bem mais do que isso.
    Ao ler este livro, foi esta a minha interpretação e ao contrário da tua opinião, que respeito, senti uma ligação forte - e medrosa - entre os dois, que aos poucos, vai crescendo capaz de enfrentar tudo o que está pela frente, numa espécie de condenação.
    Já me alonguei demais. Passa pelo Ler(-te) caso queiras ler a minha crítica :)

    Beijinhos e boas leituras!

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    1. Olá Denise,

      É engraçado como a mesma obra consegue originar duas opiniões tão distintas e os nossos pontos de vista são um reflexo das tais cotações no Goodreads. Não reparei na questão da simbiose entre os dois personagens, mas depois de ler o que dizes a esse respeito, tenho que concordar com o teu ponto de vista. Há um certo crescimento na Connie enquanto mulher, sim. A forma como ela encara a relação com o seu primeiro namorado, tratando o sexo como uma eventualidade inevitável numa relação é o oposto da que tem com Mellors. Mas não me arrebatou. Não senti a tal paixão entre as personagens, o arrebatamento. Quanto à questão do erotismo e da pornografia, também me parece uma "desculpa" usada para censurar a obra, em vez das questões mais importantes que o livro aborda. Enfim, anos 20...

      Obrigado por partilhares a tua opinião :) Vou passar pelo teu blogue, claro.

      Beijinhos e boas leituras!

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  2. Olá, spi,
    estive a ler também o comentário da Denise e achei engraçado ver duas opiniões diferentes. Um dia tiro as teimas - qd me preparar mentalmente para as cenas mehhh :S

    beijinhos e que venham melhores leituras!

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    1. Ia mesmo sugerir-te que lesses a opinião dela. É engraçado ver duas tão diferentes. Tens que tirar as teimas, sem dúvida!

      beijinhos

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  3. Olá Sofia,
    Tenho este livro na estante da minha mãe e um dia, tenho que lhe dar uma hipótese.
    Mas percebo que te tenhas sentido um pouco desiludida por não ser explicito para ter sido censurado mas suponho que seja pela época em que foi escrito. Tal como por exemplo Madame Bovary e até Anna Karenina.
    De qualquer modo, um dia, espero lê-lo e ver se concordo ou não contigo ;)
    Beijinhos

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    1. Olá Tita,

      Tens que ler a opinião da Denise ao livro e depois sim, por favor, lê o livro! Gostava de saber o teu ponto de vista :)

      beijinhos

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