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quarta-feira, 22 de junho de 2016

Ouve a Canção do Vento /Flíper, 1973, Haruki Murakami

Este livro foi-me oferecido pela editora, em troca de uma opinião honesta. Obrigado Casa das Letras!

Quem me acompanha há mais tempo, já percebeu com certeza que eu adoro Murakami. Para além de opiniões, o Delícias à Lareira conta também com alguns artigos de discussão sobre os paralelismos entre os seus livros e também teve, em tempos, uma rubrica de caricaturas dedicada a algumas personagens criadas por este autor.

São poucos os autores cujas novidades literárias me deixam entusiasmada, mas só Murakami me faz perder a cabeça e aproveitar todas as pré-vendas. E fico triste quando recomendo algum dos seus livros a amigos que, no final, me dizem que não gostaram ou que não perceberam nada da história. E curiosamente, percebo mais facilmente quem não gosta do que o contrário.

O seus livros deixam-me sempre um pouco frustrada, em especial no final, quando viro a última página em busca do tão aguardado desfecho e não encontro nem mais uma palavra. Mas há qualquer coisa que me faz voltar sempre aos seus livros. Não sei se é a escrita simplificada ou as próprias histórias, o que sei é que não passo um ano sem ler um ou dois livros deste escritor, como se tivesse que saciar ou calar alguma coisa dentro de mim.

Ouve a Canção do Vento e Flíper são dois contos inéditos de Murakami que marcaram o início da sua carreira. Na nota introdutória do livro, o próprio explica-nos como certa tarde, inesperadamente, se lembrou de que poderia escrever um livro. E assim começou a sua rotina de escritor, todas as noites, depois de fechar o bar de jazz, à mesa da cozinha.

Também nestes dois contos encontramos os tais paralelismos com outros livros. Ou talvez seja mais correcto assumir que os outros livros é que têm semelhanças com estas histórias. Posso começar por referir os óbvios: gatos, doenças que se curam de formas estranhas, personagens que desaparecem sem deixar rasto, a típica ginástica matinal transmitida via rádio que me lembrou imediatamente o Sargento (Norwegian Wood), raparigas com uma psique muito estranha.... Depois há outras pontes de ligação não tão óbvias, como o Rato, por exemplo, que apesar de não ser o personagem principal destas histórias, surge ainda em mais dois livros do autor. O barman, também é uma figura frequente nestes romances e assumimos que é desta forma que Murakami ganha vida nas suas próprias histórias.

Mas para além destes paralelismos, de certa forma, as duas histórias também se completam. Não sabemos o nome de nenhum dos protagonistas/narradores, mas são ambos amigos do Rato e acabam por nos dar a conhecer um pouco esta personagem (o que é bom para quem, como eu, ainda não leu Em Busca do Carneiro Selvagem e Dança, Dança, Dança). Um detalhe engraçado sobre o Rato tem a ver com os seus romances, que são abordados em Ouve a Canção do Vento, cujos personagens não praticam sexo e ninguém morre. Isto acaba por ser irónico por ser exactamente o oposto dos livros de Murakami, onde a naturalidade com que as cenas de sexo são abordadas é semelhante às cenas em que se preparam pratos saudáveis. E quanto às mortes, serei só eu achar que as histórias por vezes se tornam um bocadinho mórbidas? Não querendo ser chata, mas isto lembra-me imediatamente Norwegian Wood (que é só um dos meus favoritos do autor).

Se por um lado é evidente a inexperiência do autor nestes dois contos, por outro vemo-lo a tocar de forma superficial em ideias que acabaria por abordar mais a fundo noutros romances. Notei, no entanto, que este é um livro muito mais rico em referências musicais e literárias que apesar de serem uma constante nos seus livros, aqui estão quase por toda a parte. Desde que passei a leitura de Norwegian Wood com a música dos Beatles na cabeça que me dou ao trabalho apontar todas estas referências.

Já repararam, com certeza, que acabo por não entrar em detalhes sobre o conteúdo das histórias mas como se trata de contos, o mínimo que vos conte já é um spoiler para quem queira ler o livro. E depois de todos os posts que já fizemos por aqui acerca do autor, sinto que estou constantemente a falar do mesmo livro, apesar de não o ser. Leiam, vão ver que vale a pena. Murakami vale sempre a pena :)

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7 comentários:

  1. Olá, Spi,

    São, pelos vistos, os primórdios do universo dele :D quero ler!!! Murakami é tão especial <3
    Achei piada quando comentaste que parece que estás sempre a falar do mesmo livro. Acho que é o que torna escrever opiniões dos livros dele tão difícil... (para além de que é Murakami. Fico sempre com a sensação de que só quem o lê as vais compreender).

    beijinhos

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    1. Olá Su,

      Torna-se difícil não pensar na tua teoria de que o senhor anda a contar-nos a mesma história disfarçadamente. Tens toda a razão, também fico com a ideia de que só algumas pessoas vão perceber o que digo nestas opiniões.

      Tens que ler, sim!

      beijinhos

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    2. Ahahah é, não é? Quem sabe...

      beijinhos

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  2. Ois,

    Bem gosto deste escritor mas não ao ponto de venerar mas quero ler mais livros dele é só falar com a São Bernardes que ela deve ter tudo do homem ehehe

    Excelente comentário ;)

    Bjs e bela gatinha tens ai a guardea dos teus livros :D

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    1. ahahahaha ok, pode-se dizer que eu venero-o um bocadinho. Olha que eu também tenho quase tudo dele. Faltam-me só dois livros :)

      A gatinha também venera o Murakami, nem que seja para servir de encosto :)

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  3. Olá Sofia,
    Por tua culpa, um dia, vou ler outro livro de Murakami. Só não sei bem é quando ;)
    Beijinhos

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    1. Olá Tita,

      Epa se é por minha culpa, só espero que depois gostes.

      beijinhos

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