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domingo, 24 de julho de 2016

O médico de Córdova, Herbert Le Porrier


O Médico de Córdova, reeditado recentemente pela Editorial Bizâncio, chegou às minhas mãos com o apoio da editora, que tanto me tem incentivado a diversificar leituras e a descobrir novos autores. Yasmina Khadra, Marek Halter e agora Herbert Le Porrier, são alguns dos nomes que se destacam por entre os autores que tenho descoberto através desta parceria e que me aguçam a curiosidade para futuras leituras. Quem se seguirá? 

A história é escrita como um relato biográfico, narrado por Moisés de Espanha, médico filósofo que descendia de uma longa linhagem de homens sábios que se dedicavam ao estudo das obras antigas e ocupavam o cargo de Juiz, na comunidade judaica. Segundo a tradição da família, o filho primogénito seguiria as pisadas do pai, enquanto que o segundo seria responsável pelos negócios da família e por suportar os estudos do irmão mais velho. 

Moisés de Espanha, nasceu em 1135, em Córdova, numa época em que a comunidade judaica, árabe e latina, viviam em plena harmonia, como nunca visto noutro sítio ou era. A cidade dividia-se em bairros destinados a cada comunidade, no entanto as casas eram semelhantes e qualquer um poderia andar livremente sem que se transpusesse algum tipo de barreira. A descrição apresentada por Moisés como sendo o início da sua história, coincide com o período das invasões árabes na Península Ibérica que, ao longo dos anos foram tomando posse de diversas cidades espanholas, de norte a Sul, e expulsando os Judeus das suas casas. 

Quando Córdova foi tomada pelos Árabes, apenas os judeus que se convertessem poderiam continuar a viver livremente, enquanto que os restantes eram livres de partir sem que algum mal lhes acontecesse. Claro que esta generosa oferta apenas era válida por um curto período de tempo, fim do qual os judeus que se recusassem à conversão (ou que mantivessem as suas tradições ocultas), eram executados, escravizados, torturados.... Eventualmente, Moisés, juntamente com o seu pai e irmão mais novo, abandonam a cidade pela calada da noite e sem um rumo certo.

E assim começa um género de peregrinação, primeiro por Espanha e mais tarde do outro lado do Mediterrâneo, por terras onde a comunidade judaica sobrevivia, apenas.  

Aquela recusa obstinada do nosso povo de se deixar eliminar, nem Assur, nem a Babilónia, nem o Egipto, nem Bizâncio o conseguiram. O Islão também não terá êxito. 
pág. 133


Chegando a Acre, Jerusalém, a situação dos judeus era cada vez mais precária. Uma pequena comunidade era autorizada a permanecer na cidade, com a condição de que se instalasse em grupo, fora das muralhas e todos exercessem o ofício da tinturaria. Só mãos judias dominavam a ciência de manipular as cores de forma perfeita, mas este era um negócio que apenas favorecia o rei. Os químicos com que os judeus trabalhavam diariamente, eram muito nocivos e matavam os homens que exerciam esta função por volta dos 30 anos. 

Moisés de Espanha, deixou uma obra filosófica e científica que brilhou por muitos séculos em todo o ocidente e tornou a libertação do povo judaico um importante objectivo de vida.

Mais do que dizer-vos que gostei muito desta leitura, devo antes referir que este livro mexeu comigo de várias formas diferentes. Começando com as descrições feitas a Córdova que me deixaram com uma vontade enorme de ir lá fazer um bocadinho de turismo. A divisão por bairros, as tradicionais fontes nos pátios, a antiga biblioteca, a margem do rio que serviu de cenário para a queima de livros censurados... Por outro lado, as provações a que o povo judeu esteve sujeito também é algo que me revolta particularmente. Dizem que a história tem tendência para se repetir, não é? 

Castelo de Vide é uma terra com uma forte herança judaica e recebeu em tempos muitas famílias que vinham fugidas de Espanha. Tanto quanto sei, este êxodo está datado de meados do séc. XV, pelo que não coincide com a época desta história. Mas também aqui os Judeus foram obrigados a permanecer na zona da Judiaria. A famosa Fonte da Vila, cuja água tem propriedades medicinais, podia ser usada por qualquer pessoa, no entanto a restante população da vila só lá poderia ir até certa hora e as mulheres tinham que ir acompanhadas por um homem que as protegesse dos judeus que por ali viviam. Também mais tarde foram obrigados a converter-se, desta vez ao cristianismo, e podiam ser denunciados se alguém suspeitasse que mantinham as suas tradições em segredo. O costume, portanto.... 

Com este livro, escrito em forma de romance, aprende-se um bocadinho de história, de filosofia, de ciência... Uma excelente leitura, portanto!

Em breve terei um exemplar para sortear no blogue, fiquem atentos :)


O Médico de Córdova vai contar para o Desafio Inverso de Julho, cujo tema era "um livro passado num país que queres visitar", pela enorme vontade que fiquei de dar um pulinho a Córdova, Andaluzia e Granada, que ficam a cerca de 4 horas de viagem :) Sim, já fiz as contas.

7 comentários:

  1. Olá, Spi,
    Ainda só vou no princípio, mas estou desejosa de o ler de vez. Só 4 horas? Ah, excelente ;D
    beijnhos

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    1. Olá Su,

      4h, mais coisa menos coisa. Parece-me um bom destino turístico e Granada fica ali ao pé da praia :) Road Trip? ehehehe

      beijinhos

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  2. Viva,

    Subscrevo o teu comentario um livro muito bom, a exemplo de outros publicados por esta editora e que vale muito a pena ler, sem duvida que se fica com vontade de ir conhecer Cordova :)

    Pode ser um pouco descritivo mas é para beneficio de quem lê, pois ficamos com um conhecimento mais profundo quer da sociedade quer das personagens.

    E sim recomendo Yasmina e Marek dois grandes escritores ;)

    Bjs e boas leituras

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    1. Olá Fiacha,

      Não sabia que já tinhas lido este livro. Olha que não achei assim tão descritivo. Pelo menos não foi um descritivo chato. Gostei bastante e aprendi muito.A Bizâncio só tem bons autores :)

      beijinhos

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    2. Foi um pouco, pelo menos para mim mas sem duvida que acabou por ser uma mais valia.

      Verdade quanto mais vou lendo mais vou ficando com essa ideia, já para não falar da simpatia da Carla, bate todos ;)

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  3. Olá Sofia,
    Deixaste-me com muita vontade de ler este livro e ainda por cima sou fã de históricos ;)
    E recordou-me de O Físico, um livro que já li há uns anitos mas que adorei!!
    Passatempo? Ena, que bom =)
    Beijinhos

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    1. Olá Tita,

      Acho que ias gostar muito deste livro. Sim, deve ser tipo O Físico. Nunca li esse livro mas a Susana leu-o à relativamente pouco tempo e tenho uma vaga ideia do que ela me contou. É dentro do mesmo género :)

      Entretanto já vi que participaste no passatempo e portanto cá ficam os votos de boa sorte!!

      beijinhos

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