Ontem aconteceu o que, à falta de outro termo, poderíamos chamar um pequeno milagre. Foi no Hospital S. José, em Lisboa. Os médicos de Obstetrícia e da Unidade de Neurocríticos daquele Hospital realizaram o parto de um bebé, que nasceu de uma mãe há quatro meses em morte cerebral. Nunca em Portugal se tinha conseguido nada semelhante.
Ou melhor, já tinha acontecido, se considerarmos que a arte tem alguma coisa a ver com a vida. Um romance de Jorge Reis-Sá, A Definição do Amor, trata exactamente este tema. Um homem, marido e pai, reflecte, angustia-se, espera e vive, semanas em cima de semanas, à beira de uma cama onde a mulher, que amou e ama, está em coma, grávida. Pensa, sofre, e espera o nascimento de um filho, o mesmo milagre que, agora, na vida real, sempre pronta a imitar a arte, os médicos do Hospital S. José conseguiram realizar.
Um extraordinário romance, A Definição do Amor, foi publicado pela Guerra e Paz em Abril de 2015. Um romance que a editora acaba, agora, de enviar, aos médicos do Hospital de S. José, saudando este triunfo da vida sobre a morte, que não é afinal um exclusivo da arte.
Sinopse
«E, num acaso da noite, vindo eu do hospital,
do barulho dos rádios nas enfermarias junto ao quarto – os homens a
acompanharem as esposas na visita semanal aos doentes mas mais interessados no
futebol – da Susana continuamente parada, o cilindro azul e o barulho repetido
da sua respiração, vindo eu da vida que me escolheram sem uma palavra
– Francisco, importa-se de ficar viúvo? Dava
jeito.
sem uma possibilidade de aceitação, sequer,
vindo eu, o velho Fidélio perguntou está melhor.
Ainda nestes dias não tinha
chorado, já se contam quatro. A minha mulher vai morrer, assim se desligue a
máquina que a respira. O meu filho vai ficar órfão, o meu outro filho sequer
vai nascer, o mais certo. E eu sóbrio e inflexível, a não querer entender. Mas
a pergunta do velho Fidélio foi a mais forte dor no coração – a Susana dizia
sempre boa noite, Sr. Fidélio, e as pombas, bem?, sacudindo o resto das
migalhas para os pardais no andar de cima. Abracei-o. Fraquejaram-me as pernas.
Chorei por quatro dias, Susana – quem vai agora perguntar pelas pombas ao
velho Fidélio?»
Biografia do autor
Jorge Reis-Sá
Nasceu em
Vila Nova de Famalicão em 1977. Licenciado em Biologia, foi fundador e editor
das Quasi, de 1999 a 2009, e director editorial na Babel, entre 2010 e 2013.
Actualmente, edita a Glaciar e é consultor editorial.
Publicou
poesia, narrativa e crónica. Em 2013, reuniu os poemas no volume Instituto
de Antropologia. No ano seguinte, assinou, com Henrique Cymerman, Francisco:
de Roma a Jerusalém. Na narrativa, além do romance Todos os Dias, publicou
a novela Por Ser Preciso, o divertimento O Dom e o livro de
contos Terra.
Organizou,
com Rui Lage, a mais completa antologia de poesia portuguesa, Poemas
Portugueses. Colabora frequentemente com a comunicação social, tendo sido
cronista das revistas Ler e Sábado.
Em 2015, a
par da edição do seu novo romance, A Definição do Amor, a Guerra &
Paz reedita Todos os Dias, o seu primeiro romance.
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