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quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Os Últimos Dias do Rei, Nuno Galopim

Nuno Galopim conta com 27 anos de carreira nos media. O jornalismo, a rádio, a música e o cinema falaram mais alto do que a paixão pela geologia que de certo modo contribuiu para sua estreia na literatura, com o livro A Vida e a Morte dos Dinossauros, escrito em co-autoria com o pai, o Professor Galopim de Carvalho. Para quem não sabe, este senhor é um género de deus da geologia em Portugal e escreve o blogue Sopas de Pedra que vale a pena conhecer. 

Saber que partilho com o autor um passado comum no estudo da Geologia, despertou a minha curiosidade para a leitura de Os Últimos Dias do Rei. Mais ainda do que querer ler sobre um episódio da nossa história que pouco é abordado nas salas de aula. Passamos do regicídio, em 1910 no Terreiro do Paço, assinalando a morte do rei e do príncipe herdeiro, para a implantação da primeira República, quase sem referir o jovem rei que governou ainda por dois curtos anos. E o que aconteceu ao rei depois de lhe ter sido recusado o trono português? Viveu no exílio até ao fim dos seus dias. Ponto final, moving on...

Em Os Últimos Dias do Rei, Nuno Galopim traz-nos uma história mais completa, que começa muito antes de 1910. Aborda a educação dos dois príncipes, cujas agendas estavam constantemente preenchidas com aulas em diversas áreas; as férias em família e a vida nas Necessidades. Paralelamente, relata-nos a instabilidade política que se sentia desde cedo e a sombra de uma revolta que era constante no reinado de D. Manuel I. O enquadramento feito pelo autor ajuda-nos a criar uma imagem mental muito fiel à época relatada. E os acontecimentos de grande relevância, como é o caso do Regicídio, são relatados minuciosamente, ao ponto de ser possível sentir a angústia da rainha e a agitação do povo.

A história é-nos contada através de três épocas distintas. Pouco antes da sua morte, D. Manuel contrata um jornalista português para registar as suas memórias e trabalhar numa biografia do rei sem trono. À parte das entrevistas com D. Manuel, o jornalista aproveita para conversar com algumas figuras da comunidade inglesa que acolheu a família real, sendo evidente o carinho e a afeição que todos têm por um homem tão distinto e bem educado. No entanto, a súbita morte do rei leva o jornalista a abandonar o projecto, regressando a Portugal sem os manuscritos das entrevistas.

Estes manuscritos abandonados dão mote para o relato da história numa perspectiva mais actual. Pedro, um jovem português emigrante em Inglaterra, aluga o mesmo quarto que anos antes fora habitado pelo jornalista. A senhoria entrega-lhe uma mala com documentos escritos em português que há muito estava guardada no sótão da casa e desta forma renasce o projecto abandonado pelo jornalista.

Não sei o que se passa ultimamente, mas a verdade é que os livros de História e Romances Históricos têm vindo a preencher as minhas estantes. Os nossos hábitos literários mudam com frequência, o que é muito bom, e ultimamente parece que tenho aproveitado o escape da literatura como forma de aprendizagem e não apenas de lazer, ainda que isto aconteça de uma forma não propositada. Os Último Dias do Rei revelou-se uma excelente leitura para quem queira descobrir um pouco mais sobre o cenário político português no início do século e a transição entre a Monarquia e a República. Mais do que basear-se na vida de D. Manuel II, Nuno Galopim também deixa o seu lado cineasta e músico marcar presença no livro, fazendo algumas referências a obras clássicas que o rei admirava, os instrumentos que tocava, e criando algumas discussões entre Pedro e alguns amigos sobre filmes que retratem outros reis europeus da mesma época de D. Manuel. Torna-se um livro muito completo em diversas áreas, o que é uma mais valia para o leitor.

Recomendo a leitura :)

2 comentários:

  1. Olá Sofia,
    É um género que, neste momento, é o meu preferido. Adoro um bom livro histórico, que nos transmita informação, sem nos maçar. E este parece ser bem interessante =)
    Beijinhos

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    1. Olá Tita,

      Por acaso é um género que há uns anos atrás me fazia fugir, com medo de levar alguma seca. Mas ultimamente tenho mudado de opinião. No entanto reparei que me atulhei em romances históricos nos últimos tempos - tudo parcerias - então já sinto necessidade de mudar de género...

      beijinhos

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