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quarta-feira, 19 de setembro de 2018

A História de uma Serva - Margaret Atwood

A História de uma Serva, de Margaret Atwood, decorre num futuro distópico, não muito longe da nossa realidade actual. A presença activa da mulher na sociedade, juntamente com outros factores importantes - guerras nucleares, alimentos alterados, uso não controlado de químicos na agricultura - levam à redução drástica da natalidade. 

Como forma de contrariar e corrigir esta tendência, é criado nos Estados Unidos um regime teocrático, que devolve a mulher aos propósitos reprodutivos. O regime democrático americano é abolido e o governo passa a ser feito por extremistas religiosos, os Comandantes. Neste cenário só são reconhecidos os primeiros casamentos, sendo os restantes considerados ilegítimos e as mulheres férteis, designadas de Servas, são obrigadas a conceber descendência para a elite estéril. 

O meu primeiro contacto com esta história foi através da adaptação em série, que comecei a ver há poucos meses. Gostei tanto que vi as duas temporadas de rajada. Portanto, e como já devem estar a perceber, depois de ter visto todos os episódios disponíveis surgiu aquele nervosinho de quem não consegue esperar um ano para saber como é que a história continua. Comprei o livro.

Se por um lado há alguns detalhes que ficam mais bem esclarecidos no livro, como os episódios do passado, antes da criação de Gileade, por outro o livro não acrescenta muito ao que se passa na série. Aliás, a série não é uma adaptação, por assim dizer. É baseada no livro, o que pode parecer que vai dar ao mesmo, mas na realidade não. A história foi aprofundada e mais bem trabalhada, criaram-se novas personagens e certas passagens passaram a ter maior relevância. Um exemplo disso é a história de Emily, que tem um papel muito mais activo na rede Mayday e na revolução, enquanto que no livro acaba simplesmente por desaparecer de cena.

Seja como for, o foco aqui não é a série, mas sim o livro. Foi o primeiro livro de Margaret Atwood que tive oportunidade de ler. Infelizmente, não fiquei fã. Não gostei particularmente da forma como a história está escrita. A protagonista, que não chega a dizer como se chama, faz um género de relato mudo. Como se fosse contando a sua história a si mesma, ou imaginando que está a contá-la ao marido, Luke. É uma forma de não esquecer e de manter a sua sanidade. E é claro que a escrita faz jus a este aspecto. De facto, é como se estivéssemos dentro da cabeça da protagonista, a ouvi-la divagar entre a sua vida passada e o presente em Gileade. Não sendo uma escrita tão bem trabalhada, não foi isso que me desagradou inteiramente. O pior foi sentir a protagonista um tanto acomodada e submissa à sua vida enquanto serva. Senti falta da força da June e da sua vontade de revolta.

Os fãs de Atwood que me perdoem, mas senti ainda que a autora não conseguiu transportar para a escrita o impacto e a importância da história que criou. Trata-se de um futuro distópico não muito distante da nossa realidade. Ao ler o livro, deveria pairar sobre a nossa cabeça aquele género de  "receio" que nos transmite George Orwell em 1984, por exemplo. Neste aspecto, também a adaptação televisiva está de parabéns.

Portanto, não façam como eu. Não comprem o livro em busca de respostas. Não vão chegar muito longe. Leiam o livro, porque não deixa de valer a pena, e depois então dediquem-se a ver a série.
Acabei por atribuir 3 estrelas no Goodreads, mas continuo interessada em ler mais livros desta autora.

Já alguém leu o novo, Chamava-lhe Grace?


Outras sugestões de leitura:

1984, George Orwell
Beloved, Toni Morrison
À Espera de Bojangles, Olivier Bourdeaut


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