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quarta-feira, 28 de novembro de 2018

The Sellout, Paul Beatty [Opinião]


The Sellout, de Paul Beatty, ganhou em 2016 o Man Booker Prize.

Para quem não sabe em que consiste este prémio (tipo eu, antes de ter ido pesquisar), foi criado em 1968 e é, actualmente, um dos prémios literários mais importantes atribuídos no Reino Unido. A Fundação Booker Prize é constituída por uma comissão cujos membros variam anualmente. Para que haja credibilidade na equipa, os membros são escolhidos entre críticos literários de renome, autores prestigiados, intelectuais e personalidades conhecidas. 

A Fundação publica anualmente uma lista longa e uma curta, mas apenas os livros que constam da shortlist são potenciais vencedores. Normalmente, gera-se um enorme frenesim em torno do lançamento desta listagem, e todos os sites de venda de livros promovem os títulos, dando-lhes grande visibilidade.

Foi assim que dei com este livro, em 2016. Acabo sempre por percorrer a lista, ler as sinopses e guardar os que mais me atraem na wishlist, à espera que surjam em promoção ou que sejam lançados em paperback, que fica sempre mais em conta.

A história decorre em Dickens, uma pequena cidade próximo de Los Angeles que, sem que nada o previsse, é eliminada do mapa. Certa manhã, as placas com a indicação “Welcome to Dickens” deixaram de estar nos respectivos postos. A pouco e pouco a população, maioritariamente negros, latinos e alguns chineses, perdem o sentido de pertença a uma comunidade. 

Bonbon, o protagonista da história, foi educado em casa pelo pai, um conceituado professor de psicologia que aproveitou este estatuto para utilizar e por vezes abusar o filho em experiências sociológicas relacionadas com racismo. Depois de o pai ser (acidentalmente) assassinado, Bonbon assume a responsabilidade de devolver a Dickens o estatuto de cidade. Com a ajuda de Hominy, são delineadas as linhas que definem as fronteiras da ex-cidade, são reestabelecidas as placas de sinalização e começam a surgir em alguns pontos estratégicos placas que dão proibição de acesso a negros, ou a brancos, por exemplo. Isto porque voltar a dividir a sociedade conforme a raça de cada um, recordou aos habitantes qual o papel que cada um desempenha, de facto, na sociedade americana pós-escravatura. 

Não é fácil escrever uma opinião sobre o tema que aqui é abordado. As ideias desenvolvidas pelo autor são muito interessantes e a forma como nos são expostas através da história denotam o seu talento enquanto autor. No entanto, a experiência de leitura teria sido muito melhor se não se fixasse demasiado em histórias secundárias que não são assim tão relevantes para a narrativa. Claro que os esforços de Bonbon em segregar a comunidade por raça, eventualmente leva-no a julgamento. É interessante percebermos de que forma as suas origens o levam a este ponto. Desde as tais experiências feitas pelo pai; como Hominy se auto-proclamou escravo de Bonbon; a forma como a segregação estranhamente devolveu algo de positivo à população de Dickens... 

Infelizmente, em alguns capítulos a leitura tornou-se mais torturante e, por isso mesmo, mais demorada. Acho que posso incluir neste ponto todas as referências a Marpessa, a ex-namorada de Bonbon que poderá ou não voltar a amá-lo. À parte da cena em que, para celebração do aniversário de Hominy é colocado um sinal no seu autocarro público que obriga a ceder lugar aos brancos, não vi muito mais propósito em dar a Marpessa mais destaque na história. 

Como costumo dizer sempre que leio algo que aborde o tema da escravatura, é muito importante não esquecer certos períodos da história. Se acho que as pessoas aprendem alguma coisa com os erros do passado? Geralmente, não. Mas pode ser que me engane. 

Seja como for, este livro não é tanto uma evocação ao passado como é uma sátira ao conceito de sociedade pós-racial e como absurda essa definição realmente é. Chegando ao final, e feitas as contas, compensa penar um pouco nos capítulos menos interessantes para conhecer o ponto de vista do autor em relação a este tema. 


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