A Besta Humana foi publicado pela primeira vez em 1890.
O autor, Émile Zola, nasceu em Paris em 1840 e foi considerado o pai da literatura naturalista. Faleceu em 1902, possivelmente assassinado devido à publicação do famoso artigo J'áccuse, em que acusa os responsáveis pelo processo de que Alfred Dreyfus, capitão do exército francês de origem judaica acusado injustamente de traição à República Francesa, foi vítima.
Em A Besta Humana, Émile Zola retrata o ser humano com base no conceito de naturalismo, procurando justificar os comportamentos patológicos dos personagens com base em conceitos biológicos, psicológicos e sociológicos. Em suma, um produto do meio envolvente.
O input da história é o matrimónio de Séverine e Roubaud, sub-chefe da estação de comboios do Havre, uma vez que a sua vida conjugal acaba por dar o mote para o desenrolar da história. O livro começa com uma cena banal, em que os dois jantam depois de um dia passado em Paris, conversando alegremente sobre o que cada um fez e encaminhando aos poucos a conversa para histórias do passado.
Imaginem então o meu espanto quando, subitamente, um detalhe outrora omitido das histórias de Séverine, desencadeia uma cena de violência doméstica atroz, capaz de me fazer pousar o livros várias vezes e pensar seriamente se seria capaz de continuar a leitura.... Não sendo esta a temática do livro, a cena está na base das decisões tomadas pelo casal no desenrolar da história, acabando, cada um à sua maneira, por enveredar por caminhos obscuros e destrutivos.
Outra característica interessante desta história é a atribuição de características humanas às máquinas, tornando-as a certa altura mais puras que os seres humanos. É por isso que a descrição da locomotiva Lison, batizada assim pelo seu maquinista Jacques Lantier, bem como todas as cenas em que a máquina surge, são escritas de uma forma muito bonita e cuidada. Para Jacques, é a Lison que faz dele um excelente condutor, chegando a compará-la a uma mulher perfeita.
Este contraste torna-se muito interessante, pois ao contrário do que acontece com os seres humanos, o meio ambiente não tem interferência no comportamento das máquinas. São máquinas! São aquilo para que foram desenhadas e construídas. Já os seres humanos são influenciados desde o nascimento por todo o tipo de estímulos que afectam não só a nossa personalidade bem como as decisões que tomamos ao longo da vida, sejam elas boas ou más. Talvez por isto, aos olhos do autor, uma máquina seja algo mais perfeito do que um ser humano.
Apesar de já ter lido o livro há mais de um ano, e só agora estar a rabiscar uma pseudo-opinião (estou enferrujada nestas coisas!) ainda tenho a história muito presente na minha memória. É um livro pequeno, mas marcante, que vale bem a pena conhecer.